terça-feira, 4 de agosto de 2009

Leitura e aprendizagem

A leitura é também uma forma de aprendizagem de vida. Em geral, as pessoas não se dão conta dessa importante atividade em seu dia-a-dia. Apesar disso, leem a todo instante, desde a roupa que escolhem para sair diariamente, até a volta para casa. Consciente ou inconscientemente, várias leituras são realizadas nesse espaço de tempo. Em nossas relações sociais cotidianas, do trabalho ao lazer, estamos em contato com os mais diferentes tipos de textos e os lemos com as mais diferentes finalidades: um jornal, um livro, um romance, um poema, uma carta, um bilhete de um amigo, ou até uma receita para um saboroso chá de jasmim. Num sentido amplo de leitura arriscaria dizer que o próprio mundo, ou talvez o universo que habitamos, é o maior texto que jamais conseguiremos ler cabalmente.
Didaticamente, pode-se fazer um recorte no universo textual e distinguir os textos não-literários – cujo objetivo é informar sobre os fatos cotidianos, científicos – dos textos literários, aqueles que transcendem o mundo em que vivemos concretamente. Mas em todo texto está presente a intenção ou propósito da mensagem, assim num texto jornalístico ou científico o objetivo é informar, já em um romance, uma novela, um poema, o objetivo principal é emocionar o leitor. Um bom exemplo para contrastar essas noções é um caso ocorrido já há alguns anos com o escritor Mário Prata. O autor constatou, surpreso, que seu livro, Será o Benedito?, estava na lista dos livros considerados não-ficção e teve que pedir ao jornal para incluí-lo na lista dos livros de ficção. Desse modo, ao lermos uma notícia de jornal, ficamos sabendo o que se passa na cidade em que moramos, no Estado, no país, ou em outros continentes. Mais do que isso, a informação sobre a falta de água em nosso bairro, o aumento de preço do combustível, as mudanças na política econômica, educacional, são fatos que podem nos afetar direta ou indiretamente. Além do mais, as notícias veiculadas diariamente também promovem a reflexão sobre os acontecimentos relatados e também sobre as diversas situações ou ambientes de onde foram recolhidas, suscitando a discussão, o debate, a tomada de posição dos leitores, dinamizando o exercício da cidadania.
Os textos literários, nesse sentido, não ficam atrás dos textos não-literários. Apesar de o objetivo ser outro, as informações contidas nesse tipo de texto também propiciam a reflexão, a discussão e a tomada de posição dos leitores. Quantas emoções não experimentamos com os “seres de papel” que habitam os textos narrativos – como diria Roland Barthes. Afinal, ao lermos um texto de Machado de Assis, por exemplo, entramos em contato com a história que nos é relatada, o modo de vida, as características físicas e psicológicas das personagens, o ambiente sócio-cultural onde se movimentam. Esses aspectos constantes em uma obra de ficção nos fazem entrar em contato com outro mundo, um mundo imaginado pelo autor, mas é um mundo que está muito próximo da nossa realidade. O fio condutor – a língua – é o que nos permite transitar desta para aquela realidade, por isso ao lermos um texto, temos a oportunidade de acompanhar o trabalho lingüístico empreendido pelo autor, experimentando também o seu estilo, ou o seu modo característico de lidar com a linguagem, ao construir sua narrativa. Experienciar essa outra realidade possível é o que nos oferece o prazer da literatura e por meio dessa vivência estética nos enriquecemos interiormente.
Assim, ao fazermos a leitura de um texto, mesmo que esta seja por vezes considerada um ato solitário, nunca estamos sozinhos, sempre estamos trocando experiências de vida com alguém. Nessa relação que se estabelece entre os interlocutores, o autor e seus possíveis leitores, ultrapassamos o simples ato de codificar e decodificar mensagens, interagimos com o outro construindo uma relação de aprendizagem.

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